4.10.05

_ Será essa metamorfose inversa?

No post anterior, apenas escrevi o que minha consciência gritava. Mas o tempo foi passando e sabe, acho que não estava em minhas mãos o poder cuidar da metamorfose, porque nesse caso, parece-me que não foi a lagarta que virou borboleta... Mas a borboleta que virou lagarta. Ou será que nunca existiu borboleta? Mas agora, não me interessa mais ... É passado. Deixemos as borboletas, lagartas e metamorfoses se perderem pelo caminho... Distantes de mim.

_ ... Acordou era um belo fim de tarde, fim da luz do sol no azul do céu, fim de tudo.

Finalmente, o final de Mil horas. Tenha paciência ... é longo, mas se você for ver... É curto. Terrivelmente curto.

Mil Horas
* Parte 7 - Final *

Acordou era um belo fim de tarde, fim da luz do sol no azul do céu, fim de tudo. Tomou um banho, penteou os cabelos, perfumou-se. Estava pronta, finalmente pronta, depois de tanto tempo... Arrumou a cama, lençóis brancos e macios. Apagou as luzes da casa, mas deixou a janela meio aberta para o ar frio entrar. Mexeu nas gavetas e achou a lâmina... Suspirou e lembrou-se de tantas vezes que a encarou, questionou-se, achou em algum lugar esperança e deixou para depois. Mas agora a esperança estava em acabar com tudo, pois ela estava condenada a ser triste. Se não fosse agora, seria depois. E bastava, bastava. Sentiu dor, mas não se importou... O sangue escorreu pela pele pálida tão vivo, trazia nele tanta esperança... Deitou-se na cama e fechou os olhos, agora não tinha mais volta. Sorriu, faltava pouco... Bastava, bastava. Aqueles últimos momentos de um dia de mil horas correriam rápidos, teriam apenas dois segundos. A dor aumentava, os lençóis tornavam-se vermelhos, a morte vinha devagar, beijar-lhe carinhosamente as faces mais pálidas que nunca. Perdeu a noção dos minutos. Estava perto... Bastava, bastava... Os sentidos foram ficando fracos, afastando-a do mundo... O telefone tocou ao longe... E tocou, tocou. A secretária eletrônica atenderia e guardaria o recado, que infelizmente ela nunca responderia.
_ Alô? Alô... Atende, por favor. Eu sei que você está aí.
A voz trouxe-a de volta para esse mundo mortal. Sentiu a dor intensa e tentou falar alguma coisa, mas sua voz morria junto com ela. Era ele.
_ Não vai me atender mesmo? Atende vai... Tudo bem, eu falo com a secretária eletrônica mesmo... Eu sei que você está me ouvindo de qualquer forma.
Sim, ela tinha voltado só para ouvi-lo. Queria atendê-lo, dizer-lhe tantas coisas... Tentou sair da cama, lutava contra a morte... Só precisava de mais uns minutos, custava esperar?
_ Preciso pedir desculpas, isso estava me matando o dia inteiro, você nem sabe como foi minha noite, sem dormir, só pensando. Tive medo de chegar aí e você não estar ou fechar a porta na minha cara. Mas... Desculpa, perdoa-me. Agi tão errado, como um idiota. A culpa não é sua... Eu só lhe quero bem, eu te amo tanto! Vai, atende esse telefone logo...
Ela estava tentando, juro. Mas as pernas estavam fracas e a escuridão não ajudava. E sangrava tanto! Só mais alguns míseros passos até o telefone...
_ Vou passar aí daqui à uma hora. Antes vou comprar-lhe umas flores bem bonitas, vermelhas como você tanto gosta. E se você me perdoar, vou te encher de beijos e nunca mais vou fazer você chorar. Você será a mulher mais feliz do mundo...
Eu fui a mulher mais feliz do mundo, pensou. Sorriu, apesar da dor. Afinal, ainda existia em alguma parte dela, uma alma. A mão suja de sangue caiu sobre o telefone.
_ Alô, você está aí mesmo?
_ Eu...
_ Você está bem?
_ Eu... Te... Amo...
O telefone escorregou de sua mão. Seus joelhos não suportaram o corpo e o corpo não podia mais sustentar a alma. Caiu, fechou os olhos e tudo que ela queria eram mais mil horas para tentar tudo de novo.

Fim.