20.1.07

_ Visual novo.


Lindo né? Tive preguiça de fazer um eu mesma, logo, baixei esse que está excelente. Estava precisando mudar mesmo....


_ "Assim como minha vida."


Bem, essa é uma redação que eu fiz para o cursinho ano passado, mas gostei muito do resultado e quem corrigiu também! Espero que gostem também, meus caros leitores fantasmas.


As últimas horas.
Ele estava sentado em sua confortável poltrona, envolto em uma nuvem espessa de fumaça, refletindo e observando a chama consumir o cigarro que, ironicamente, também o consumia. A música que colocara para tocar era triste e mais parecia um coral de anjos, prontos para levá-lo dali.
Apagou o cigarro, suspirando, muito cansado. A fumaça foi se dissipando e pôde ver melhor a sala. “Assim como minha vida”, pensou. Entendia agora as palavras do avô, ouvira-as um pouco antes do fim da existência daquele velhinho de cabelos muito brancos que dissera quase que num sussurro, o sussurro mais lúcidos de seus últimos tempos, que agora, no fim, ele podia ver claramente. “Sim, vovô, eu também posso ver agora’. Na juventude, viu a vida como os feixes de luz que escapam das frestas das cortinas entreabertas, mas, agora que a idade tornara seus cabelos tão brancos quanto os do avô, ele podia ver tudo, sem cortina que pudesse impedir a luz de chegar aos seus olhos. E se sentia só. Seus dois filhos não corriam mais pela casa, muito menos o terceiro, pois tinha ele mesmo trancado a porta daquela criança. A ordem final que tinha enchido de água os olhos da mãe, que não se lembrava nem do nome, só da foto no jornal, caderno policial.
Levantou-se e encarou o espelho. Não precisava de uma pesada biografia para contar sua história, pois ela estava todinha ali, no seu rosto. Lembrou-se do livro que lera no colégio, O Retrato de Dorian Gray. Infelizmente ele não tinha nenhum retrato para envelhecer por ele ou esconder seus pecados. Encarando sua imagem, viu sua alma enegrecida, envelhecida e amaldiçoada por todos seus erros. Abriu as portas que não deveriam ser abertas e manteve fechada as que deveriam ser abertas. Suas rugas eram páginas que ele não queria folhear.
Voltou para sua poltrona, conquistada com a desgraça de muitos, como grande parte de sua fortuna. Sentiu que não poderia mais sair de lá. Nunca mais. Não porque suas pernas não tivessem um resto de forças, mas porque estava velho: velho demais para mudar a história daquelas folhas. Estava sentada a beira de sua própria cova, as pernas balançando, só esperando que os anjos que entoavam aquela canção triste ao fundo o empurassem lá pra baixo.


Até a próxima.
Ao som de ... Radiohead - Let Down.