29.11.05

_ Puf.

Está acabando comigo estudar tanto. Quer dizer, lutar para estudar. Porque estudar mesmo, está díficil. Mas ainda mais complicado é lutar contra um dos meus piores inimigos. Não, não é a disputa acirrada de 64 almas (sedentas por conhecimentos e um lugar ao sol)por vaga e nem contra o tempo que parece ficar cada vez mais curto... É contra mim. O modo irritante como me cobro de uma maneira cruel. Nunca me basta estar na média, preciso me destacar, ser a melhor. Que ódio. Não consigo colocar na cabeça, entre logaritmos e os malditos mols e espelhos concâvos que eu não POSSO SABER TUDO. Que por mais que eu estude, eu NÃO VOU SABER. Vestibular é cruel, mas entrar em conflito com tudo que você é... isso sim dói. Dói mais que minhas costas depois de passar o dia inteiro debruçada sobre uma maldita carteira de colégio. Sim, tempestades no copo d´água. Eu sou assim e tenho que aprender a lidar com isso! Estudando pra passar ... no vestibular da vida. Talvez eu tenha que estudar um pouco mais. Puf.

_ Otimismo.

Um dia daqueles. Um dia feliz. Sabe? Então, esse conto é sobre esse dia, que acordamos pra sorrir.

Otimismo.
*Pt. 1 *

Ligou o chuveiro. A água caiu sobre seus ombros e ela se encolheu um pouco, dando risada. A água quente foi encharcando seus cabelos longos, fechou os olhos, só ouvindo o barulho da água caindo na banheira e escorrendo lentamente. Olhou pela janela e nem fazia um dia tão bonito assim. A tempestade da noite passada tinha deixado o céu tristonho e cinzento e o ar úmido. Mas ela não estava nem aí para as nuvens pesadas que caminhavam vagarosamente pelos céus pois estava feliz. Ela não sabia como e nem porquê, mas sorria. Não estava tudo certo, era bem verdade. O preço das coisas continuava aumentando e o governo estava uma bagunça. Ela tinha muitas coisas para fazer, seu quarto estava bagunçado e ainda não tinha achado aquele livro que sua mãe pedira. Também continuava acima do peso e aquela blusa que ganhara do namorado de natal ainda não servia. Mas nada disso importava, ela estava feliz! Pela primeira vez na vida estava ali, debaixo da água, lavando os cabelos e sorrindo. E não era só um surto, aquelas coisas que a gente tem quando acontece algo muito bom de repente, sabe, quando sorrimos e cantamos e pulamos e o mundo parece todo feito pra gente. Era uma coisa estranha que envolvia seu corpo e sua alma, apertava-a de uma forma confortável, porque tudo estava bom, muito bom... Não perfeito, porque nada nessa vida é perfeito, mas...

Continua ...

4.10.05

_ Será essa metamorfose inversa?

No post anterior, apenas escrevi o que minha consciência gritava. Mas o tempo foi passando e sabe, acho que não estava em minhas mãos o poder cuidar da metamorfose, porque nesse caso, parece-me que não foi a lagarta que virou borboleta... Mas a borboleta que virou lagarta. Ou será que nunca existiu borboleta? Mas agora, não me interessa mais ... É passado. Deixemos as borboletas, lagartas e metamorfoses se perderem pelo caminho... Distantes de mim.

_ ... Acordou era um belo fim de tarde, fim da luz do sol no azul do céu, fim de tudo.

Finalmente, o final de Mil horas. Tenha paciência ... é longo, mas se você for ver... É curto. Terrivelmente curto.

Mil Horas
* Parte 7 - Final *

Acordou era um belo fim de tarde, fim da luz do sol no azul do céu, fim de tudo. Tomou um banho, penteou os cabelos, perfumou-se. Estava pronta, finalmente pronta, depois de tanto tempo... Arrumou a cama, lençóis brancos e macios. Apagou as luzes da casa, mas deixou a janela meio aberta para o ar frio entrar. Mexeu nas gavetas e achou a lâmina... Suspirou e lembrou-se de tantas vezes que a encarou, questionou-se, achou em algum lugar esperança e deixou para depois. Mas agora a esperança estava em acabar com tudo, pois ela estava condenada a ser triste. Se não fosse agora, seria depois. E bastava, bastava. Sentiu dor, mas não se importou... O sangue escorreu pela pele pálida tão vivo, trazia nele tanta esperança... Deitou-se na cama e fechou os olhos, agora não tinha mais volta. Sorriu, faltava pouco... Bastava, bastava. Aqueles últimos momentos de um dia de mil horas correriam rápidos, teriam apenas dois segundos. A dor aumentava, os lençóis tornavam-se vermelhos, a morte vinha devagar, beijar-lhe carinhosamente as faces mais pálidas que nunca. Perdeu a noção dos minutos. Estava perto... Bastava, bastava... Os sentidos foram ficando fracos, afastando-a do mundo... O telefone tocou ao longe... E tocou, tocou. A secretária eletrônica atenderia e guardaria o recado, que infelizmente ela nunca responderia.
_ Alô? Alô... Atende, por favor. Eu sei que você está aí.
A voz trouxe-a de volta para esse mundo mortal. Sentiu a dor intensa e tentou falar alguma coisa, mas sua voz morria junto com ela. Era ele.
_ Não vai me atender mesmo? Atende vai... Tudo bem, eu falo com a secretária eletrônica mesmo... Eu sei que você está me ouvindo de qualquer forma.
Sim, ela tinha voltado só para ouvi-lo. Queria atendê-lo, dizer-lhe tantas coisas... Tentou sair da cama, lutava contra a morte... Só precisava de mais uns minutos, custava esperar?
_ Preciso pedir desculpas, isso estava me matando o dia inteiro, você nem sabe como foi minha noite, sem dormir, só pensando. Tive medo de chegar aí e você não estar ou fechar a porta na minha cara. Mas... Desculpa, perdoa-me. Agi tão errado, como um idiota. A culpa não é sua... Eu só lhe quero bem, eu te amo tanto! Vai, atende esse telefone logo...
Ela estava tentando, juro. Mas as pernas estavam fracas e a escuridão não ajudava. E sangrava tanto! Só mais alguns míseros passos até o telefone...
_ Vou passar aí daqui à uma hora. Antes vou comprar-lhe umas flores bem bonitas, vermelhas como você tanto gosta. E se você me perdoar, vou te encher de beijos e nunca mais vou fazer você chorar. Você será a mulher mais feliz do mundo...
Eu fui a mulher mais feliz do mundo, pensou. Sorriu, apesar da dor. Afinal, ainda existia em alguma parte dela, uma alma. A mão suja de sangue caiu sobre o telefone.
_ Alô, você está aí mesmo?
_ Eu...
_ Você está bem?
_ Eu... Te... Amo...
O telefone escorregou de sua mão. Seus joelhos não suportaram o corpo e o corpo não podia mais sustentar a alma. Caiu, fechou os olhos e tudo que ela queria eram mais mil horas para tentar tudo de novo.

Fim.

17.9.05

_ E o tempo tem fome de vida ....

Demora para postar desde que comecei o cursinho. Aliás, eu deveria estar no ônibus, rumo a duas agradáveis aulas de redação. Mas como não estou muito bem de saúde e achei as aulas meio desnecessárias, preferi ficar em casa... Está mais quentinho e confortável. Estou preocupada, andei perdendo várias aulas... Gripe, esse negócio estranho que tive no estômago... Toca eu correr atrás... O vestibular está chegando, preciso estudar, preciso passar... Preciso de muito ânimo, aliás preciso de muitas coisas e está difícil... eita fase maldita!

_ Mais uma vez, o tempo ... traga de volta tudo aquilo que se perdeu...

As coisas andaram estranhas para mim no setor amizade. Uma face estranha apareceu e eu não soube lidar com ela. Aliás, ninguém soube. Então, corremos, procuramos um lugar para poder nos abrigar daquela estranha mudança. Mas como poderia deixar aquele ser perdido na sua própria metamorfose, sem saber direito o que estava acontecendo? Na dificuldade, eu corri. Senti-me covarde e ainda mais, senti saudades. Quando alguém passa a fazer parte de nossas vidas, é difícil deixá-la partir, abandoná-la só porque não reconheçemos mais seus olhos... Afinal, apesar das estranhas asas que ela ganhou durante a metamorfose, lá dentro ainda é aquele ser que um dia nos preocupamos... E então, o tempo nos suspirou no ouvido o óbvio... Que era hora de voltar, que tinhámos sido tão tolos em correr de algo que era nossa obrigação assistir e cuidar. Nós, que falamos tanto, não tivemos coragem na hora certa de fazer a simples pergunta ... Está tudo bem com você? E o tempo nos deu a resposta ... Sim, está bem, mais poderia estar melhor senão fosse a covardia de vocês, que ousam se intitular, amigos. Cubro-me de vergonha, prometendo que não farei mais isso.

_ Afinal, estava acordada há mil horas...

Uma dia difícil que se estendia em uma tortura sem fim... seriam seus últimos instantes ?

Mil Horas
* Parte 6 *

No meio do caminho tão conhecido, decidiu. Chegaria, tomaria um banho, pentearia os longos cabelos e... Passou na frente de mercado, recorreria às companheiras de farra, de alivio? Não, ele havia ensinado que nada se resolvia assim. Talvez um belo sonho em pílulas, como nos velhos tempos de insônia? Ele tinha mostrado que não valia a pena. Teria coragem e enfrentaria tudo sozinha no último instante... Por ele? Não, por ela.
Entrou no apartamento e sentiu frio. Havia tanta vida naquele maldito lugar, tanto amor! Jogou-se na cama, ficou olhando o teto e percebeu que as lágrimas escorriam lentamente. Sentiu o sono soprar-lhe as lágrimas e pesar nas pálpebras. Afinal, estava acordada há mil horas... E adormeceu, perdida em um sonho vazio, afinal, sua alma não lhe acompanhava mais.

Continua ...

19.8.05

_ Seus olhos eram da cor dos mais deliciosos pesadelos ...

Escrevi um conto essa semana. Vou postá-lo assim que terminar de postar o Mil Horas. Aguardem... só preciso de tempo para digitá-lo. Meu tempo anda tão curto... Ainda bem que fantasmas não cobram prazos.

_ " ... estar sem alma seria uma doença?"

A alma as vezes pesa tanto em nossos corpos, que a única coisa que desejamos é nos livramos dela...

Mil Horas
* Parte 5 *

Voltou para o emprego sentindo o estômago revirar. Surpreendeu-se com o poder das três bolachas, mas lembrou-se que junto com elas, haviam alguns litros amargos de magoa. Ao respirar o ar pesado do escritório seu corpo decidiu fazer o que ela mais precisava fazer: vomitar. Saiu em disparada em direção ao banheiro, mas ainda teve tempo de ouvir o comentário mais infeliz do dia.
_ Deve estar grávida.
E seguiu aquela risada pegajosa e forçada pairando pelo ar, como se a perseguisse. Aquela maldita sabia... Não podia ter filhos. E isso era uma de suas maiores dores, seu maior pesar... Sua ferida aberta, impossível de cicatrizar. Sua vontade de vomitar aumentou ainda mais, abriu a porta com violência e trancou-se lá. Caiu aos pés do vaso e libertou-se. Não vomitou apenas a comida indigesta, mas também o amor. A dor, a mágoa, o ódio, a frustração... Vomitou a alma por inteiro. Estava quase vazia, sentindo o peso quer era seu ser finalmente aliviado. Mas não chorou ou sorriu, permanecendo segura no silêncio e na imobilidade.
Depois de um tempo, ergueu-se, limpou-se e deparou-se com o espelho. Seus olhos estavam limpos e sentiu seu peito que não mais abrigava um coração, leve. Saiu.
_Nossa, você está com uma aparência doente... É melhor ir para casa descansar, querida.
O perfume não incomodou, mas precisava vomitar as últimas vibrações emotivas de seu ser, a última gota de humanidade de seu corpo.
_ Você está sempre com essa aparência ridícula e de vagabunda e ninguém incomoda. Assim, faz o favor de não me encher!
O rosto tão sorridente tingiu-se de vermelho intenso, vermelho vergonha, vermelho raiva. Seus lábios abriram-se para dar uma resposta ácida, mas ela já tinha lhe dado as costas. Apesar de vir de quem vinha, não era uma má idéia ir pra casa. Pediu para ir mais cedo e o chefe, observando-a com pena, liberou desejando-lhe melhoras.
_ Você parece doente mesmo... _ ele lhe disse. Mas, pensou ela, estar sem alma seria uma doença?

Continua ...

14.8.05

_ Estou atrasada, preciso correr.

Cursinho e colégio ao mesmo tempo é pesado. Mas estou gostando, sabe? Porque a vida boa acabou de vez, agora que estou quase adulta, nunca mais paz e sossego, não é verdade? Nessa idade, começa a luta cruel por um futuro... por estudo, por um emprego... As vezes me dá vontade de eternizar os 16, por exemplo. Aquela parte onde a adolescência está totalmente amadurecida e a idade adulta ainda está dando os primeiros sinais. Época que as responsabilidades estavam ainda aparecendo, preocupações e decisões eram pequenas. Se eu estou querendo fugir da vida? Não, só dá saudade as vezes. Porque sabe, a memória torna até os mais amargos momentos doces e sem falhas... Ela nos traí, criando um passado menos amargo que nos dê mais esperanças que o futuro seja melhor e que o presente é apenas uma passagem, as vezes, cruel. Mas nenhum dos dois tempos tem verdadeira importância.... Apenas o presente é grande, a única coisa que podemos realmente sentir. Mas o homem não aprendeu ainda e vive o presente em função do futuro. E eu, sou mais um desses humanos, alimentada pela memória falsa de um passado mais tranquilo e pela construção de um futuro incerto que fingimos ter total segurança que será bom.

_ Comprei até uma rosa para ela.

Sentença de morte ou libertação? As vezes a morte é a única solução...

_ " ... lutava ferozmente em silêncio ... "

Nossa personagem realmente está tendo um dia péssimo. Quanto tempo mais pra ele acabar?


Mil Horas
* Parte 4 *


_ Terminou. Só...
_ Oh... Sinto muito. Mas você vai ficar bem com o tempo, viu?
Agradeceu com os olhos, pois a voz não permitiu fazê-lo. Foi quando sentiu um perfume exageradamente doce e nauseante às costas. O barulho irritante do salto confirmou a presença.
_ Acabou? Ahhhhh, que pena! Vocês estavam tãoooo bem. Tãoooo irônica! Queria fazê-la engolir aquele tom. Era tão impiedosa e descarada que sequer se deu ao trabalho de esconder o sorriso. Era conhecida sua queda por seu namorado, mas ele a rejeitou, preferiu a menina tímida e graciosa, segundo ele mesmo. Assim como nunca trocava de perfume, aquela cínica nunca aceitara a derrota. E vivia celebrando as briguinhas e desentendimentos do casal.
_ Pois é, estávamos.
_ Ah, mas não se preocupe! Aliás, sempre achei que vocês não combinavam, sabia! _ Deu aquela risadinha forçada e saiu rebolando, com um sorriso tão imenso que mesmo de costas, sabia-se que sorria.
_ Sujeitinha mais...
_ Vadia.
O ódio por aquela “sujeitinha” parecia ser geral. Sua arrogância e convencimento eram intragáveis. Só o chefe, que idolatrava suas curvas, seus cabelos loiros tingidos e sua tremenda falta de caráter e cérebro, suportava-a. Mas ela estava cansada demais para se preocupar com pequenas pessoas como aquelazinha. Refugiou-se em suas obrigações que eram muitas, aliás.
_ Vamos almoçar?
_ Desculpa, mas hoje não...
Evitou o restaurante onde sempre comia. Não tinha apetite e o cheiro, outrora sedutor, repeliu-a para ainda mais longe. Foi caminhando, sem rumo e acabou em uma agradável praça cheia de arvorezinhas floridas e tão coloridas, grama recém cortada, passarinhos brincando e rodopiando pelo ar tão livres... E algumas pessoas curtindo sua hora de almoço. Parou em uma vendinha para comprar um pacote de bolachas. Apesar de estar totalmente sem fome, não podia ficar tanto tempo sem comer. Jogou-se em um banco e ficou observando o movimento. Viu felicidade, tanta felicidade... Estava compartilhando daquele sentimento a menos de uma semana atrás, mas agora aquilo lhe parecia tão distante... A contra gosto engoliu três bolachas, enquanto lutava ferozmente em silêncio contras as lágrimas. Não conseguiu comer mais. Seu corpo simplesmente parecia determinado a expelir coisas.

Continua ...

2.8.05

_ Qual lugar mais bonito em que você já esteve?

Ah, respiro aliviada! Livre de toda aquela coisa horrível que estava grudada em cada poro de meu corpo, em cada espaço do meu coração. Tempestade foi-se de vez, abrindo lugar para um céu maravilhosamente límpido e azul. Espero que dure... Acho que gritar e chorar faz um bem danado no final, pois expulsa tudo que há de ruim no corpo e na alma. Vivo dias mais tranquilos, mais seguros e felizes. Esperançosa e determinada, como gosto de estar. Porque vivemos de tempestades e calmarias. E esse é meu período de calmaria, enfim.

_ " ... estava insensível às coisas do mundo. "

Minha personagem ao contrário, vive sua fase de tormenta. Final eu diria. A tempestade que não vai embora nunca, o momento em que se desiste de lutar, respira-se fundo e não se sente mais nada. Que será dela?

Mil Horas
* Parte 3 *
Não tomou seu café da manhã. Seu estômago não sentia fome e estava um pouco enjoado. Tinha que sair rápido, pois já estava atrasada para pegar seu ônibus. Mas não se importava... Um ônibus a mais ou a menos, dez ou quinze minutos de atraso não fariam diferença. Aliás, nada parecia fazer diferença aquele dia... O trânsito não a irritou, pois estava insensível às coisas do mundo.
Ao pegar o elevador e apertar o botão do décimo andar, lembrou-se que odiava seu emprego: as pessoas, o lugar apertado e barulhento, a quantidade enorme de tarefas e aquele chefe sempre mal humorado. Sua função não era má, mas todo o resto mal podia suportar. Talvez se só fosse enfiar a cabeça no trabalho... Mas tinha que conviver e a convivência era sempre problemática. Naquele dia mesmo, ouviria os comentários maldosos sobre sua aparência insone diretamente de sua “inimiga” de trabalho, sempre arrogante e prepotente. Também havia a bronca que levaria do chefe pelo atraso e como ouvir sua voz molenga e pastosa reclamando pelos malditos quinze minutos não bastasse, ainda receberia tarefas extras “pra ontem”, como ele gostava tanto de dizer e dar risada, como se aquela frasezinha inútil tivesse alguma graça. Só havia uma pessoa que considerava, sentava-se ao seu lado em uma mesa organizada e impecável. Era uma mulher com um coração bondoso e extremamente tranqüila.
A porta do elevador se abriu. Ela respirou fundo e entrou cabisbaixa, desejando que ninguém percebesse sua quase inexistência.
_ Quinze minutos de atraso, mocinha.
_ É, eu sei. Desculpa, o ônibus atrasou.
A bronca não se prolongou e ela agradeceu. Sentou-se pesadamente na cadeira e ligou o computador.
_ Bom dia!
_ Oi.
_ Que aconteceu?
_ Não dormi a noite.
_ Só isso mesmo? Quer conversar?
Ela sempre tinha essa atitude preocupada. Quantas vezes não a vira com aquele rosto pálido triste e não se sentara com um sorriso pra ouvir-lhe as reclamações? Mas não, ela não queria conversar, explicar os olhos inchados, simplesmente queria deixar tudo trancado no apartamento junto com a toalha e o xampu.
Continua ...

28.7.05

_ Vou acender uma vela por você.

A TPM passou. A tempestade não. Sabe quando você explode e joga tudo aquilo que você simplesmente acha que acontece a sua volta? Você sabe que não, mas é só uma desculpa, pra chorar um pouco mais e dizer que está triste ainda com alguma coisa que você simplesmente não consegue explicar. Tudo está bem, bem... Acho que preciso de um abraço que transmita tudo aquilo que eu quero sentir profundamente. Que sabe, está tudo bem.

As vezes eu acho que tem algo errado comigo. Que eu as vezes volto para os tempos de solidão. É falta do que fazer. Passa logo... Espero. Aqueles tempos, negros e frios... não quero que voltem.

_ " ... simplesmente não conseguia parar de sentir sua benção. "

Mais uma parte de Mil Horas para meus caros leitores invisíveis.

Mil Horas
* Parte 2 *

Foi até a cozinha com alguma esperança, talvez ainda restasse algo. Mas não, nada restava, nenhuma garrafa miraculosa e pacificadora. Ele também tinha feito o mau hábito de acabar com as preocupações numa taça de vinho ou numa dose de vodka ter fim. Seus antigos refúgios tinham sido todos violados por aquele homem cruel que só fez o bem. Deparou-se sentada na mesa, olhando a madrugada passar através da janela. O que seria dela agora sem ele? Nada, nada! O que sempre fora, um nada aborrecido e rastejante. A hora insistia em não passar, assim como a dor. E o sono nem para dar as caras e consolá-la.
Ficou assim, pensativa e largada pelos cantos da casa até que o sol veio ferir seus olhos doloridos. Encostada em algum canto, olhava o nada, tentando pensar em coisa algum, mas aquele lugar estava abençoado demais pela presença dele e ela, criatura dependente, meio parasita, simplesmente não conseguia parar de sentir sua benção. Ouviu o despertador no quarto. Era mais um dia nascendo devagar... E ela, em contradição, morria. Arrastou-se vagarosamente até o chuveiro. Um banho e um dia longo e cansativo no trabalho com certeza iam encher sua cabeça o bastante para esquecer seu drama pessoal. Drama, drama... Sentiu-se humilhada por sua dependência. O barulho da água silenciou os insultos que fazia contra o ser que mais odiava no momento; a idiota no espelho. Seu corpo magro agradeceu a ducha. Surgiu uma vontadezinha de sorrir, porém seus lábios recusaram-se a fazê-lo. Estavam eternamente tristes. Olhou em volta e achou provas da convivência de cinco anos com ele. Seus joelhos ossudos balançaram e o corpo escorregou pelo azulejo gelado. Era apenas um xampu e aquela toalha azul... Achou que seu estoque de lágrimas devia ser infinito e ficou ali, deixando o chuveiro prantear com ela.


Continua ...

24.7.05

_ ... sem misericórdia...

Bem, como eu disse em algum post por aí, a primeira parte de Mil Horas... ando escrevendo bastante, espero postá-los por aqui. Mil horas é grande, por isso, a meus caros fantasmas que acompanham meu blog, paciência.

Mil Horas
* Parte 1 *

Lançou o lençol longe e recomeçou seu pranto. Seus olhos já estavam inchados e ardiam. Por Deus, só queria dormir! Profundamente e nunca mais acordar, de preferência. Cerrar seus olhos vermelhos, descansar o corpo fraco e livrar-se da alma que incomodava. Burra, burra, mil vezes burra! Estragara tudo novamente, com sua imaturidade, com sua personalidade fraca e inconstante. Virou-se e afundou o rosto no travesseiro encharcado de lágrimas, preenchido não por espuma, mas por desespero. Não conseguia se lembrar de outra vez que tinha chorado tanto. Queria gritar, mas eram insuportáveis três horas da manhã. Acordaria os vizinhos. Os mortos até, se realmente gritasse como tinha vontade. Sentou-se, acomodando-se na cama que parecia mais seu leito de morte. Observou a escuridão silenciosa e cruel. Buscou no silêncio da madrugada algum conforto, mas não achou. As lágrimas cessaram. Haveriam de ter secado, enfim. Precisava dormir, demônios! Madrugada que jamais acabava... Aquela noite, para sua desgraça, tinha mil horas, sem descanso e sem misericórdia.
Pulou da cama e foi ao banheiro. Vasculhou o armário do espelho de novo, mas não... Não estavam lá. Por que se livrara deles? Calmantes; tomá-los-ia e pronto! Uma noite tranqüila de sono sem sonhos. Queria poder fugir daquele pesadelo que vivia. Tão real que doía na carne. Ele, sim, ele a fizera jogar no lixo todos seus antigos companheiros. Ele tornara suas noites tranqüilas, com seus olhos doces. Fizera com que largasse do vício para adquirir outro, agora podia ver, bem pior: o amor. Sequer se olhou no espelho, pois tinha medo, repulsa. Nunca se acostumara com as próprias feições, aquele rosto magro e pálido, sempre triste. Nascera com aquela expressão, morreria com ela e não lhe restavam opções a não ser aceitá-la. E naquele momento, estaria ainda pior, marcada por aquela dor que não a deixava dormir.

Até.

19.7.05

_ " Seria uma segunda feira linda de Julho se não fosse o cheiro de morte putrefando o ar..."

Não quero ser velada quando morrer. Não quero gente chorando e esperneando sobre meu caixão. Quero paz na hora de morrer, um túmulo bonito com um anjo adulto ( nada de anjinhos de cabelo enrolado ¬¬ ) com flores na mão. Que elas sejam eternas como eu não pude ser. Mas nem elas serão, não é verdade? Nada, exatamente é eterno. Mas o que me faz passear pelas tumbas da morte, em uma segunda feira tão linda? Nada, é que velórios me fazem pensar. Odeio ver meus amigos tristes.

_ " A angústia corroia-lhe a garganta e o peito já estava oprimido com aquele ar ...."

Odeio me sentir assim... Não, essa coisa me levou a pensar em coisas estranhas, mas logo percebi que o erro estava em mim. A tristeza as vezes é dura de combater. Desmotivada, forte e teimosa... Gruda e invande o coração. As lágrimas não são bem vindas, nem sei o que as causou. Então eu luto, luto... penso em outra coisa, faço outra coisa, encho a cabeça para não dar importância para essa besteira que é sentir triste só por estar aqui.... Problema é que minha alma é tão mais forte que meu corpo...

Mais coisas a escrever ... deixa pra depois, quando a tristeza não esiver influenciando malignamente minhas palavras ...




10.7.05

_ Melhor iluminação ... 1963, Nosso Ano!
Reviver as lembranças da noite de 3 de Julho de 2005 é aquecer essa madrugada horrível de sábado. Sim, o trabalho sem amor me rendeu o prêmio de Melhor Iluminação e rendeu para o grupo o prêmio de Melhor Espetáculos entre outras cositas más. Uma noite boa, maravilhosa, ao lado de quem gosto tanto... Meus amigos e ele. Aquele detalhezinho no meio de tanta gente que me viu subir ao palco e abraçar o meu troféu... Aquele menino que estava cansado e quase passando mau... o prêmio maior era a presença dele. Porque a presença dele sim, é um ato de amor.
_ Puf.
Dia chato demais... Uma semana inteira se passou e nada se fez, a não ser ficar morgando nesse computador maldito. Eu preciso estudar... Falta vontade, está muito frio... Frio é bom e meu frio não é mais solitário. Mas hoje a noite é... E ela me transporta acidentalmente para outros infernos <> gélidos de minha vida. Sábado gastos na frente do computador de coração vazio e sem esperança, aquele aperto no peito e as lágrimas prontas para serem choradas. Hoje tem esse gosto, apesar de estar de coração cheio e saber que amanhã vai tudo passar. Os dias ruins da TPM não podem ser evitados nem quando se está apaixonada! ><
_ Mil Horas.
Quero postar meu conto. Talvez o faça por partes. Minha sorte é que ninguém me lê, não tenho compromissos de leitores ávidos por saber seu fim. rs Mil horas é um conto triste, é um conto libertador para sua personagem. Lembro-me de como começou a ser escrito, seu berço... Na espera. Naquela espera no metrô Santa Cruz que nunca acaba. Caderno e lápis em mãos, a dor de meu personagem finalmente tornando-se palpável atráves da palavra. Eu vi tantos rostos enquanto esperava e nenhum me pareceu o dela... Ela sequer tem nome. E eu ainda a faço perder a alma, o folêgo e amor... Terminou de ser escrito em um dia como esse, chato, aborrecido, carente... Na escola, no intervalo enquanto todos conversavam eu me dava por completo para fazê-la seguir seu rumo triste. Talvez eu devesse achar outra alma por aí e dar-lhe uma chance de salvar-se atráves de minhas palavras, já que é um dia inspirado, onde posso respirar essa tristeza de minhas personagens. Mas é tarde ... vou domir. E nascer de novo, disposta e sem TPM para um domingo lindo de inverno.
Até

1.7.05

_ Por favor, falem ALTO e CLARO!

Festival de Teatro do Santo Agostinho ... segundo ano. A primeira vez a gente nunca esquece, mas a segunda é bem melhor? Não sei, o resultado eu só vou saber no domingo, na premiação. Mas aqui eu deixo minhas impressões. Era pra ser a semana mais legal do ano, assim eu pensei naquela segunda de manhã. Mas não foi... Foi uma semana fria de inverno, sem emoção. Sem paixão e brilho. E pisar no palco de novo e mexer nos botões da luz... acho que foi solitário. É o que eu disse pra Aline enquanto estavámos sentadas no ônibus: um buraco. Sim, dentro do meu coração... cadê tudo aquilo que eu vi e senti ano passado, no mesmo dia primeiro? Todo aquele clima? Fragmentou-se numa memória tão doce, tão gloriosa, que jamais deveria ser tocada. Nesse mesmo dia primeiro, enquanto eu carregava um esquilo de isopor pintado por mim, senti que seria a última vez que pisava ali. Que sentiria aquela sensação. E não me enganei. Fica o vazio e o sentimento de um trabalho bem feito, apesar de tudo. Um trabalho, não um ato de amor.

28.6.05

_Preciso de um blog.

Sim, precisava voltar a escrever coisas idiotas na net e publicar. Sabe quando sua cabeça está tão cheia de coisas e pensamentos que você simplesmente precisa escrever? Eu poderia guardá-las pra mim. Escrever e deixá-las perdidas em algum caderno, alguma folha amassada na gaveta ou ainda um arquivo .doc largado no PC. Mas não ... alguém vai ler. Criticar, elogiar comentar ... senão, seria a mesma coisa que deixá-las sufocadas na mente. Elas clamam por serem ouvidas. No caso, lidas.

_ Perdi meu antigo endereço.

Ele era um amontoado de reclamações e considerações inutéis de uma garota, hoje, deixada pra trás. Um visual elaborado, botõezinhos bonitinhos... Tristeza excessiva de alguém que estava sentindo o mundo passá-la para trás. De repente, ela parou de postar. Falta de tempo e de jeito. Jeito de se expressar. Pois estava muito ocupada tentando recuperar o que tinha perdido. E um quase um ano se passou desde seu último post. E ela.... Ela cresceu. E definitivamente, com esse blog novo, o only-dark, ela não procura se aproximar de seu passado, mas se afastar. E escrever é a única forma de se libertar.

Até