6.4.08

_ Pro diabo com o silêncio quando tudo que se espera é uma palavra, uma reação!

O final desse conto "bonitinho". E termino com essa frase, que eu sei o quanto é verdadeira. Espero que gostem.

Fora de Estação.

Parte Final.


E a árvore a observava com muitos olhos amarelados. Enrubesceu, estava ficando velha mesmo ou apenas lutava para esconder qualquer coisa que pudesse fazê-la voltar atrás? Não era covarde, só não queria errar!

_ Você vai conseguir deitar a cabeça no travesseiro sabendo que deixou as coisas do jeito que estavam por medo de mandar tudo pro inferno e começar de novo?

_ Por que você acha que eu quero fazer isso? Talvez eu só queira continuar do jeito que estou, seguir os planos, talvez eu esteja feliz do jeito que estou! Aliás, por que você acha que eu menti?

_Olhe para você! Esta inquieta demais, seu sorriso tem uma tristeza, uma inquietação! Aposto que essas olheiras... você nem deve estar dormindo direito pensando nisso!

_ Já disse, é o estresse!

_ Você me perguntou se as flores têm perfume.

_ E daí? _ Ângela tremia, tentava ficar calma, pelo menos demonstrar que estava. E agora aquela pergunta estranha, onde ele estava tentando chegar?

_ Como eu poderia saber, se a única coisa que eu me lembro é do seu perfume? Do calor do seu abraço e de seus lábios tão doces? Droga, Ângela, eu fiz uma pergunta aquele dia e você mentiu porque estava com medo! Simplesmente não posso deixá-la fazer isso de novo! Antes era só uma coisa de adolescente, mas agora é pra valer! Você está com medo de decepcionar as pessoas? Poxa, danem-se elas! E você? Onde fica você essa historia toda, o que você sente realmente? E eu? Como fico, sabendo que você vai ser infeliz ao lado daquele cara? Não, eu respondo sua pergunta, você não sentiu um pingo de saudade dele e tampouco o ama! Era isso que você estava com tanto medo de descobrir?! Pois bem, está aí a verdade!

Olharam-se demoradamente, a respiração de Carlos um pouco alterada, a expressão gelada e pálida de Ângela. Ele esperava apenas uma reação de dela, um grito que fosse, um “vou fazer as coisas do meu jeito dessa vez!” ou um seco “cala a boca, você não faz idéia do que esta falando.”, um tapa, uma crise de choro, qualquer coisa! Menos aquele silêncio, aquela expressão de pedra. Justo eles, que debaixo de árvores como aquela, podiam passar horas em silêncio juntos, sendo felizes! Pro diabo com o silêncio quando tudo que se espera é uma palavra, uma reação!

O alarme do relógio, presente do noivo, tocou. Ângela desprendeu os olhos dos de Carlos, calçou os sapatos e saiu, sem dizer uma palavra, do carro. Carlos, indignado, seguiu-a, tentando manter-se calado, já havia falado demais. Toda aquela eloqüência a troco de nada, fizera papel de tolo e agora teria que encarar aquele homem de jeito sereno, mas tão vil a seus olhos! Para inferno ele e aquela risadinha amena sem energia! Atravessaram a rua, alcançando a calcada coberta de amarelo.

_ Carlos _ Ângela parou, olhando pra cima, onde o céu e a copa da árvore se confundiam, respirando fundo, buscando forças. _ Essas flores ainda têm perfume?

Ele, serenamente, a encarou. Começava a ventar, seus cabelos ganhavam movimento, estava tão linda! Esperando que a partir daquele momento o noivo dela não fosse pontual, puxou-a para perto, olhando no fundo de seus olhos, que demonstravam medo ainda, mas estavam banhados de uma cor que lembravam bastante a coragem. Ela então sorriu, querendo lhe dizer algo, mas sabia muito bem a agora do silêncio. E beijaram-se com a suavidade do perfume de uma flor amarela.

Fim.


E o próximo conto será ...


Reencontro.


Até!





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