24.7.05

_ ... sem misericórdia...

Bem, como eu disse em algum post por aí, a primeira parte de Mil Horas... ando escrevendo bastante, espero postá-los por aqui. Mil horas é grande, por isso, a meus caros fantasmas que acompanham meu blog, paciência.

Mil Horas
* Parte 1 *

Lançou o lençol longe e recomeçou seu pranto. Seus olhos já estavam inchados e ardiam. Por Deus, só queria dormir! Profundamente e nunca mais acordar, de preferência. Cerrar seus olhos vermelhos, descansar o corpo fraco e livrar-se da alma que incomodava. Burra, burra, mil vezes burra! Estragara tudo novamente, com sua imaturidade, com sua personalidade fraca e inconstante. Virou-se e afundou o rosto no travesseiro encharcado de lágrimas, preenchido não por espuma, mas por desespero. Não conseguia se lembrar de outra vez que tinha chorado tanto. Queria gritar, mas eram insuportáveis três horas da manhã. Acordaria os vizinhos. Os mortos até, se realmente gritasse como tinha vontade. Sentou-se, acomodando-se na cama que parecia mais seu leito de morte. Observou a escuridão silenciosa e cruel. Buscou no silêncio da madrugada algum conforto, mas não achou. As lágrimas cessaram. Haveriam de ter secado, enfim. Precisava dormir, demônios! Madrugada que jamais acabava... Aquela noite, para sua desgraça, tinha mil horas, sem descanso e sem misericórdia.
Pulou da cama e foi ao banheiro. Vasculhou o armário do espelho de novo, mas não... Não estavam lá. Por que se livrara deles? Calmantes; tomá-los-ia e pronto! Uma noite tranqüila de sono sem sonhos. Queria poder fugir daquele pesadelo que vivia. Tão real que doía na carne. Ele, sim, ele a fizera jogar no lixo todos seus antigos companheiros. Ele tornara suas noites tranqüilas, com seus olhos doces. Fizera com que largasse do vício para adquirir outro, agora podia ver, bem pior: o amor. Sequer se olhou no espelho, pois tinha medo, repulsa. Nunca se acostumara com as próprias feições, aquele rosto magro e pálido, sempre triste. Nascera com aquela expressão, morreria com ela e não lhe restavam opções a não ser aceitá-la. E naquele momento, estaria ainda pior, marcada por aquela dor que não a deixava dormir.

Até.

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